ROMELEX: MUDANDO SEU TEMPO, de RUBENS PILEGGI
por Roberto Corrêa dos Santos
Em um dos diálogos de Platão, expõe-se a maravilhosa narrativa mítica acerca do nascimento do Amor: de Amor, esse ente que nos abraça a todos e que de teste serve para nossa medida do quanto de mais ou de menos em nós há do que nomeamos de vida forte; de Amor, desse ente que atua como sistema de filtragem do que de menos ou mais age sobre a saúde ampla e necessária da Pólis.
No diálogo platônico, assim nasce Amor: Pênia – a fértil penúria – vendo dormir Poros (a potência riquíssima do que transpira), nele se lança, fazem sexo; juntam-se assim o que sobra (Poros) e o que falta (Pênia); desse assalto febril, emerge o belo, e de origem oximórica, filho: Amor.
Rubens Pileggi retoma o mito: e põe-se a gerar inúmeras obras advindas de tal união amorosa; trata-se de atos artísticos de amor, juntando sempre as duas riquezas aparentemente opostas, mas tão apenas suplementares, como as duas faces de um papel, indissociáveis ainda.
Marx bem olhara com rigor essa dobra do excesso (bem ali) em virtude da falta (bem acolá); propunha, como Rubens, em seus modos críticos, um susto-golpe-corte vigoroso na mais-valia; de que modo? Distribuindo; fazendo aparecerem em diretas e nuas faces as diferentes forças; invocando enérgico e suave a Política (Pólis: e movimento e posições e embates e encontros) e o Amor (afeto máximo: e farto em variedade de gestos afirmativos; entre eles, o cuidar, o dar, o dividir, o trocar, o tornar-se o outro).
Daí a sintomal saúde das pesquisas artísticas de Pileggi: os homens e as mulheres que habitam o fora, a rua; suas vestes, seus atos, seus plurais dizeres e sabedorias. Uma arte, então, de expor a fartura da miséria.
E aqui, nesta Vitrine, lugar quase sempre constituído para o desejar e o consumir, alteia-se uma espécie de paradoxo entre o que é visto (e o que se sente ao ver) e o que é mostrado (e o como é mostrado), e eis: a miséria, a penúria, Pênia, agora sob embalagem e ambiente ... ‘finos’, como se de uma imaginária, tenaz e irônica relojoaria.
Olhos cuidadosos e sensíveis hão de ver a coisa, a ardente coisa que nos cerca, o outro, a coisa-outra; ali: quatro relógios de parede e o... ROMELEX, o precioso Relógio bem ao centro, sobre o clássico poder, do velho poder, do pedestal: Ele, o ROMELEX girando, girando, girando.
Em cada um dos relógios, uma placa, como as dos relógios de hotéis internacionais em que se leria Paris, Tokyo, London; Mas nesta hora da arte de Pileggi, ao invés disso, os relógios marcam este tempo, hoje e histórico, com faces de novas gloriosidades, com faces dos moradores de rua. Nas placas: Lapa, Cinelândia, Glória, Carioca, Bairro de Fátima.
E: no espaço expositivo de um conflito sem fim ainda: revistas; em suas páginas, propagandas de agudos relógios: os ROMELEX, com seu slogan: MUDANDO SEU TEMPO – slogan cravado sobre o cobertor corta-febre a emoldurar o vidro da Vitrine, a assinalar? não mais a pergunta que horas são, mas esta: Arte e Política, trata-se disso? E a responder-se: Sim, Arte e Política contemporâneas; e mais: Arte e Amor contemporâneos. E mais: e mais.
por Roberto Corrêa dos Santos
Em um dos diálogos de Platão, expõe-se a maravilhosa narrativa mítica acerca do nascimento do Amor: de Amor, esse ente que nos abraça a todos e que de teste serve para nossa medida do quanto de mais ou de menos em nós há do que nomeamos de vida forte; de Amor, desse ente que atua como sistema de filtragem do que de menos ou mais age sobre a saúde ampla e necessária da Pólis.
No diálogo platônico, assim nasce Amor: Pênia – a fértil penúria – vendo dormir Poros (a potência riquíssima do que transpira), nele se lança, fazem sexo; juntam-se assim o que sobra (Poros) e o que falta (Pênia); desse assalto febril, emerge o belo, e de origem oximórica, filho: Amor.
Rubens Pileggi retoma o mito: e põe-se a gerar inúmeras obras advindas de tal união amorosa; trata-se de atos artísticos de amor, juntando sempre as duas riquezas aparentemente opostas, mas tão apenas suplementares, como as duas faces de um papel, indissociáveis ainda.
Marx bem olhara com rigor essa dobra do excesso (bem ali) em virtude da falta (bem acolá); propunha, como Rubens, em seus modos críticos, um susto-golpe-corte vigoroso na mais-valia; de que modo? Distribuindo; fazendo aparecerem em diretas e nuas faces as diferentes forças; invocando enérgico e suave a Política (Pólis: e movimento e posições e embates e encontros) e o Amor (afeto máximo: e farto em variedade de gestos afirmativos; entre eles, o cuidar, o dar, o dividir, o trocar, o tornar-se o outro).
Daí a sintomal saúde das pesquisas artísticas de Pileggi: os homens e as mulheres que habitam o fora, a rua; suas vestes, seus atos, seus plurais dizeres e sabedorias. Uma arte, então, de expor a fartura da miséria.
E aqui, nesta Vitrine, lugar quase sempre constituído para o desejar e o consumir, alteia-se uma espécie de paradoxo entre o que é visto (e o que se sente ao ver) e o que é mostrado (e o como é mostrado), e eis: a miséria, a penúria, Pênia, agora sob embalagem e ambiente ... ‘finos’, como se de uma imaginária, tenaz e irônica relojoaria.
Olhos cuidadosos e sensíveis hão de ver a coisa, a ardente coisa que nos cerca, o outro, a coisa-outra; ali: quatro relógios de parede e o... ROMELEX, o precioso Relógio bem ao centro, sobre o clássico poder, do velho poder, do pedestal: Ele, o ROMELEX girando, girando, girando.
Em cada um dos relógios, uma placa, como as dos relógios de hotéis internacionais em que se leria Paris, Tokyo, London; Mas nesta hora da arte de Pileggi, ao invés disso, os relógios marcam este tempo, hoje e histórico, com faces de novas gloriosidades, com faces dos moradores de rua. Nas placas: Lapa, Cinelândia, Glória, Carioca, Bairro de Fátima.
E: no espaço expositivo de um conflito sem fim ainda: revistas; em suas páginas, propagandas de agudos relógios: os ROMELEX, com seu slogan: MUDANDO SEU TEMPO – slogan cravado sobre o cobertor corta-febre a emoldurar o vidro da Vitrine, a assinalar? não mais a pergunta que horas são, mas esta: Arte e Política, trata-se disso? E a responder-se: Sim, Arte e Política contemporâneas; e mais: Arte e Amor contemporâneos. E mais: e mais.
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