segunda-feira, 10 de setembro de 2018

A BUTTERFLY HUNTER ON THE PRAGUE CITY


Um caçador de borboleta
Tendo saído do Brasil para fazer um curso de escultura, durante meu período de Licença Capacitação, no primeiro semestre deste ano de 2018, durante mais de 2 meses residi na cidade de Praga, na República Tcheca, onde me deparei com histórias e construções da Idade Média que, hoje, fazem parte do acervo cultural da humanidade. Foi na Praça Venceslau, um rei do século XII, diante de sua imagem, que entendi que aquele amontoado de metal moldado no século XVIII ou XIX ajudava a trazer identidade e coesão social a seu povo. E isso não estava isolado da quantidade de turistas visitando a grande praça circundada de palácios, museus e outras obras monumentais e seculares. Nem da economia que aquele conjunto de histórias e memória movimenta.
Por ironia, próximo ao local onde eu estava residindo, na Praça Ortenovo, no bairro de Holešovice, na região conhecida como Praga 7, distante 15 a 20 minutos de bonde da Praça Venceslau, está instalada uma peça feita com duas chapas de metal, no tamanho aproximado de 3 metros, ladeada por um perfil de mais ou menos 40 cm, pintada pelo brasileiro Romero Britto. Representa uma borboleta.
Depois de consultar, pela internet, descobri que um escritório oferece graciosamente às prefeituras das cidades uma obra do referido artista. Através da embaixada brasileira, sambistas representando a “cultura brasileira” são convidados para se apresentarem no dia da inauguração da peça. Formalizam-se as transações e, pronto, está aberto o canal para possíveis trocas comerciais entre o escritório de Romero Britto e a cidade “premiada”1.
Conversando com o artista Kristofer Paetau – que foi meu anfitrião e intermediário para que eu pudesse ir para Praga – lembramos de alguns “diálogos” entre obras, tais como o desenho de De Kooning apagado por Rauschenberg (Erased de Kooning Drawing, 1953) e, também, da estátua da menina sem medo (2017) que se posiciona em frente ao Búfalo de Wall Street (1989), em Nova York, EUA.
Rapidamente, desenhei em uma folha de papel uma rede de caçar borboletas e começamos a pensar juntos qual seria a melhor posição para ela ficar na Praça Ortenovo, “dialogando” com a obra de Romero Britto. Outro amigo, Ondrej Brody, também artista, sugeriu que eu enfiasse a rede sobre a borboleta e eu logo fui tirar as medidas reais do trabalho alheio para pensar sobre o que e como fazer o meu próprio trabalho.
Fiz uma maquete do conjunto borboleta-rede ao mesmo tempo em que tentava pensar quais seriam os melhores materiais para a construção do meu objeto. Fui à uma grande loja de materiais de construção, um pouco afastada no centro da cidade, e comprei canos de plástico, madeira, parafusos e demais materiais para fazer a parte rígida da rede, que deveria ter, pelo menos, 3 metros de diâmetro, em sua boca. Não fiquei satisfeito em um primeiro momento e comprei mais materiais para dar à rede mais estabilidade. E, após isso, comprei uma rede de tecido de propileno que me fez pensar se valia a pena os gastos que eu estava tendo com esse trabalho. Afinal, quanto tempo iria demorar para que depredassem ou que a polícia ou o serviço público retirassem minha rede de cima da escultura do famoso escultor brasileiro?
Meus amigos diziam que, em uma hora, no máximo a rede não estaria mais lá. Outro, mais pessimista, de que eu seria preso no ato de colocar a rede de caça sobre o objeto de metal. Fui tranquilizado pelo meu orientador do curso de licença capacitação, ponderando que a rede não iria machucar o trabalho alheio e que não haveria problemas com a polícia, caso ela chegasse na hora da ação.
Na manhã de um sábado, convidei os amigos e o meu orientador, que veio com seus alunos, para fazer um piquenique e realizar a ação na Praça. A rede encaixou-se perfeitamente à borboleta e não houve nenhum tipo de problema que pudesse atrapalhar o planejamento feito anteriormente. Ao contrário, alguns moradores do bairro vieram até a mim para dizer que aprovavam minha intervenção.
Um mês depois que eu fui embora de Praga, a rede continuava na praça, ora sobre a borboleta, ora no chão, ao lado da borboleta. Ninguém roubou a rede, levou o cano ou depredou a peça. As pessoas interagiram com a rede de caçar borboletas como um jogo, uma brincadeira. Como meu amigo desce no ponto da Praça, todos os dias, para ir trabalhar, ele foi fotografando essa reação e enviando as fotos para eu apreciar.
Colocando a rede

Colocando a rede e posando para foto

Criança brincando com a maquete da rede

Público da Praça interage com a rede

Público da Praça interage com a rede - talvez a pessoa tenha pensado em libertar a borboleta...
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Vários dias depois

mais...

Um mês depois


Até que a rede rasgasse