terça-feira, 10 de janeiro de 2012

CONTAMINADO - l'autre Brasil

 u-TUPY-olândia
objetos variados
  u-TUPY-olândia (detalhe)
Cartão do Manneken Piss furado, em u_TUPY_olândia

                                        

Terra para Todos
150 saquinhos de terra distribuídos gratuitamente
 Visão do mezanino da galeria Museu Imaginário, Pça Jeu de Balle, 27, Brussels
 u_TUPY_olândia (detalhe)
Vida em gotas
  u_TUPY_olândia (detalhe)
Ipanema Beach
 Santos Protetores
Instalação para vitrine com 3 banners

 Vitrine (visão interna)
  u_TUPY_olândia (detalhe)
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  u_TUPY_olândia (detalhe)
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Contaminado
Série de fotografias 30x40cm cada
  u_TUPY_olândia (detalhe)
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 Vitrine

u_TUPY_olândia (detalhe)
Visitante com Kit_DuArte
 Vitrine (visão interior)
Detalhe do buraco no banner da Vitrine



CONTAMINADO
A exposição CONTAMINADO, de Rubens Pileggi Sá, faz parte da mostra L'autre Brésil, que vem reunindo vários artistas brasileiros em residência na Bélgica, desde outubro de 2011. Sua realização é fruto de uma parceria do Musee Imaginaire et Identiques com o Estúdio DEZENOVE, dirigido por Júlio Castro.
Constituído de 04 trabalhos distintos, todos eles tem em comum uma estratégia de visibilidade que se dá na relação entre cultura de povos diferentes em um mundo globalizado. No caso da presente mostra, o foco recai sobre os frutos das contaminações entre índios e brancos nos Trópicos, que acontecem há mais de 500 anos. Se é certo que os índios foram contaminados com doenças, que tiveram suas terras invadidas, impedidos de praticar seus costumes, não é menos certo que, movidos pela necessidade de sobrevivência, foram obrigados a se adaptar, muitas vezes, com resultados imprevisíveis. Da tentativa de escravizá-los, no início da colonização, até chegar ao capitalismo atual, cada vez mais a imagem do 'primitivo selvagem' passou a existir como mercadoria. Uma mercadoria aparentemente ingênua e facilmente rotulável, dada sua carga de exotismo para o homem branco, mas que nunca deixou de ser um vetor de contaminação cultural, uma vez que a própria ideia de natureza da qual esses povos são portadores, também é uma invenção do homem branco.
O que se pode dizer, assim, é que uma 'inversão antropológica' está em curso na relação dos dominados com os dominadores, fazendo com que as imagens só possam se integrar umas às outras por oposição, conflito e tensão. No caso da presente exposição, já na vitrine da galeria nos deparamos com uma dessas situações, onde o retrato de uma índia nua, sem rosto, é ladeado por outras duas imagens de santas católicas armadas até os dentes. Essa índia, de rosto vazado, pode ser eu ou você, mas será sempre uma farsa, na medida em que, de fato, nunca podemos ser 'o outro'. Ao mesmo tempo, o que fazem aquelas santas que a ladeiam, estão lá para protegê-la ou para oprimi-la? Certamente suas armas fazem referência às armas dos homens brancos e não as dos 'selvagens'.
Contaminação também é o tema das 14 fotos expostas na galeria. Trata-se de apropriações de imagens de vários painéis luminosos que estavam expostos na frente do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, durante uma visita do artista ao local. As fotos captam o reflexo da paisagem urbana diante dos luminosos, parecendo perguntar ao espectador: quem contamina quem?
Já a mesa do CAMELÔ – que é um vendedor informal e ambulante muito comum no Brasil – é uma instalação que mostra vários objetos onde o jogo de aliterações entre nomes, coisas e função dos objetos é levado ao extremo. A maioria deles parte da realidade brasileira, particularmente da cidade do Rio de Janeiro, para questionar sua beleza, sua monumentalidade, sua 'brasilidade' e a insistente publicidade carioca disposta a vender a imagem de um país exótico e hospitaleiro ao mundo.
Por fim, TERRA PARA TODOS, parece harmonizar, através da generosidade, as contradições das contaminações. São saquinhos de terra que o espectador pode levar para casa, grátis, como souvenir da exposição. Mas, também, remetem à idéia de que a Terra – a Pacha Mama – deve ser dividida entre todos os seus filhos, e que não pode permanecer somente como direito de poucos privilegiados.
Desse modo, CONTAMINADOS não vem para mostrar que a pureza é o nosso mito idealista de representação do mundo, nem para testar a unanimidade das escolhas éticas e estéticas, mas para provocar questões, debates e reflexões que se prestem a revelar nossa contemporaneidade.

Hilário Mertz/ dez 2011

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