u-TUPY-olândia
objetos variados
u-TUPY-olândia (detalhe)
Cartão do Manneken Piss furado, em u_TUPY_olândia
Terra para Todos
150 saquinhos de terra distribuídos gratuitamente
Visão do mezanino da galeria Museu Imaginário, Pça Jeu de Balle, 27, Brussels
u_TUPY_olândia (detalhe)
Vida em gotas
u_TUPY_olândia (detalhe)
Ipanema Beach
Santos Protetores
Instalação para vitrine com 3 banners
Vitrine (visão interna)
u_TUPY_olândia (detalhe)
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u_TUPY_olândia (detalhe)
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Contaminado
Série de fotografias 30x40cm cada
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u_TUPY_olândia (detalhe)
Vitrine
u_TUPY_olândia (detalhe)
Visitante com Kit_DuArte
Vitrine (visão interior)
Detalhe do buraco no banner da Vitrine
CONTAMINADO
A exposição CONTAMINADO, de Rubens Pileggi
Sá, faz parte da mostra L'autre Brésil, que vem reunindo vários
artistas brasileiros em residência na Bélgica, desde outubro de
2011. Sua realização é fruto de uma parceria do Musee Imaginaire
et Identiques com o Estúdio DEZENOVE, dirigido por Júlio Castro.
Constituído de 04 trabalhos distintos, todos
eles tem em comum uma estratégia de visibilidade que se dá na
relação entre cultura de povos diferentes em um mundo globalizado.
No caso da presente mostra, o foco recai sobre os frutos das
contaminações entre índios e brancos nos Trópicos, que acontecem
há mais de 500 anos. Se é certo que os índios foram contaminados
com doenças, que tiveram suas terras invadidas, impedidos de
praticar seus costumes, não é menos certo que, movidos pela
necessidade de sobrevivência, foram obrigados a se adaptar, muitas
vezes, com resultados imprevisíveis. Da tentativa de escravizá-los,
no início da colonização, até chegar ao capitalismo atual, cada
vez mais a imagem do 'primitivo selvagem' passou a existir como
mercadoria. Uma mercadoria aparentemente ingênua e facilmente
rotulável, dada sua carga de exotismo para o homem branco, mas que
nunca deixou de ser um vetor de contaminação cultural, uma vez que
a própria ideia de natureza da qual esses povos são portadores,
também é uma invenção do homem branco.
O que se pode dizer, assim, é que uma
'inversão antropológica' está em curso na relação dos dominados
com os dominadores, fazendo com que as imagens só possam se integrar
umas às outras por oposição, conflito e tensão. No caso da
presente exposição, já na vitrine da galeria nos deparamos com uma
dessas situações, onde o retrato de uma índia nua, sem rosto, é
ladeado por outras duas imagens de santas católicas armadas até os
dentes. Essa índia, de rosto vazado, pode ser eu ou você, mas será
sempre uma farsa, na medida em que, de fato, nunca podemos ser 'o
outro'. Ao mesmo tempo, o que fazem aquelas santas que a ladeiam,
estão lá para protegê-la ou para oprimi-la? Certamente suas armas
fazem referência às armas dos homens brancos e não as dos
'selvagens'.
Contaminação também é o tema das 14 fotos
expostas na galeria. Trata-se de apropriações de imagens de vários
painéis luminosos que estavam expostos na frente do Museu do Índio,
no Rio de Janeiro, durante uma visita do artista ao local. As fotos
captam o reflexo da paisagem urbana diante dos luminosos, parecendo
perguntar ao espectador: quem contamina quem?
Já a mesa do CAMELÔ – que é um vendedor
informal e ambulante muito comum no Brasil – é uma instalação
que mostra vários objetos onde o jogo de aliterações entre nomes,
coisas e função dos objetos é levado ao extremo. A maioria deles
parte da realidade brasileira, particularmente da cidade do Rio de
Janeiro, para questionar sua beleza, sua monumentalidade, sua
'brasilidade' e a insistente publicidade carioca disposta a vender a
imagem de um país exótico e hospitaleiro ao mundo.
Por fim, TERRA PARA TODOS, parece harmonizar,
através da generosidade, as contradições das contaminações. São
saquinhos de terra que o espectador pode levar para casa, grátis,
como souvenir da exposição. Mas, também, remetem à idéia de que
a Terra – a Pacha Mama
– deve ser dividida entre todos os seus filhos, e que não pode
permanecer somente como direito de poucos privilegiados.
Desse modo, CONTAMINADOS não vem para mostrar
que a pureza é o nosso mito idealista de representação do mundo,
nem para testar a unanimidade das escolhas éticas e estéticas, mas
para provocar questões, debates e reflexões que se prestem a
revelar nossa contemporaneidade.
Hilário Mertz/ dez 2011